domingo, 6 de junho de 2010

Diários da liberdade


Diários da liberdade: Sargento Max Coelho, 40 anos, policial do Bope

Dia 28 de abril, quarta-feira

"A cada dia que passa sinto mais orgulho de fazer parte do Bope, tamanho o profissionalismo da equipe. Antes da nossa saída, recebemos briefing do oficial de operações, orientando quanto à cautela na incursão e em termos maior cuidado, pois sabemos que os traficantes atiram a esmo e muitas vezes causam efeitos colaterais. Dentre as comunidades pacificadas, acho que essa será a de maior desafio, afinal tenho escutado e lido que a população tijucana quer a polícia ocupando as comunidades.

Enfim, partimos para o Borel. A cada operação, um novo sentimento, uma dúvida: como vamos ser recebidos pela população local?

Estou pasmo, afinal trabalhei dois anos, de 97 e 98, no batalhão que cobre a área do Borel e toda vez que entrava na Rua São Miguel de viatura escutava fogos e tiros. E, para conseguir chegar na Laje da Kombi, precisava de muito tempo de operação. Mas o que mais impressiona é que nessa operação não precisamos efetuar nenhum disparo. E mais: poder ver nos rostos das pessoas o ar de felicidade com a nossa chegada. Alguns só balançavam a cabeça, outros sorriam com um simples positivo. Indaguei um comerciante e ele disse " a partir de hoje estamos livres do tráfico, livres do mal. Como policial, parece que estou em outro estado. Tempo de paz!".

Dia 30 de abril, sexta-feira

"Fizemos contato com a associação de moradores, lideranças religiosas (padres e pastores), ONG's, representante de mototáxis, Kombis e colégios. Acabei esquecendo! Ao entrar no Ciep, fomos ovacionados por pelo menos 500 crianças que nos abraçavam, queriam tirar fotos. Indescritível, prefiro parar por aqui (Risos!)".

Dia 1º de maio, sábado

"A tranquilidade é visível em cada olhar. Meus companheiros do Bope estão recebendo cartinhas das crianças com dizeres de boas vindas, queremos paz, "por causa de vocês estarem aqui, minha mãe está deixando eu brincar na rua". Nunca imaginei que fosse passar por isso. Somos aceitos, admirados. Muito bom! Muito bom mesmo!".

Dia 3 de maio, segunda-feira

"Marcada para onze horas a reunião do comandante Paulo Henrique. Novamente percebi que a comunidade do Borel é mesmo diferente. Compareceram cerca de 400 pessoas para ouvir o comandante do Bope e para o comandante ouvi-los. O que mais surpreendeu foi que não houve tantas reclamações, mas questionamentos do tipo "o Bope vai ficar direto aqui?", "Queremos o Bope, queremos a UPP"... Impressionante!
Neste mesmo dia teve um relato de um rapaz de 25 anos que veio num comboio de motos para a reunião, usando o caminho (rua) do Borel, e disse que isso não acontecia há 20 anos. Isso é paz! Somos uma tropa de intervenção, mas também de pacificação".

Dia 15 de maio, sábado

"Culto organizado por nós para agradecer a paz naquele local. Estiveram presentes padres, pastores, associações, ONG's, quando oramos a Deus em agradecimento. A melhor parte do evento foi quando a Tropa de Louvor se apresentou. O comentário foi geral. "Eles podem pregar a palavra de Deus fardados de caveira?", perguntou uma senhora da Assembléia de Deus. Fiquei muito feliz pois a comunidade compareceu e foi um sucesso!".

Dia 19 de maio, quarta-feira

"Mais um serviço e hoje a missão não posso deixar de registrar. Nós, policiais do Bope, distribuímos cestas básicas e roupas para os desalojados da comunidade. E fizemos com estilo! Conseguimos o espaço na quadra da Unidos da Tijuca, levamos as senhoras da Tavares Bastos para nos ajudar e colocar as roupas como se fosse um grande bazar. Enfim, nós, policiais, trazendo dignidade a uma população tão sofrida".

Dia 29 de maio, sábado

"Palestra com os mototáxis. Ao andar na comunidade, a sensação é de dever cumprido. Paz, tranquilidade e organização. Falta muita coisa, mas o que é mais gratificante nisso tudo é poder ser chamado pelo nome pelos moradores, que reconhecem em nós uma esperança de dias melhores".

Dia 30 de maio, domingo

"Organizamos um torneio de futebol entre as comunidades do Borel, Chácara do Céu, Morro do Cruz, Casa Branca e não podia deixar de citar o Andaraí, que, apesar de não estar pacificado, matriculou seu time. É, realmente somos o país do futebol... Compareceram mil pessoas e até autoridades.
Agora, chocantes são os relatos dos moradores que não passavam por ali há 20 anos. É de impressionar qualquer um. Parabéns para todos os times e principalmente para os vencedores. Vencedores! Todos somos vencedores!".

Dia 1º de junho, terça-feira

"Fiquei sabendo pelo nosso superior que nossa missão no Borel está terminando. Agora entram os policiais da UPP. Qual será nossa próxima comunidade? Não importa. O que importa é saber que estamos livrando as pessoas do tráfico de drogas, trazendo dignidade e esperança.

Depois de 21 anos na PM, agradeço a Deus por estar participando desse momento da Segurança Pública no Rio de Janeiro. Tempos de paz!"

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