A paz que veste farda preta
Sargento do Bope deixa o Borel com missão cumprida: hoje, amigo de todos, sobe o morro sem ouvir nem um disparo sequer
POR PAULA SARAPU
Rio - Em cada território reconquistado pelo estado, a paz chega primeiro vestindo farda preta. Sargento da tropa de elite e personagem de todos os processos de ocupação, Max Coelho, 40 anos, tinha uma preocupação especial com o Morro do Borel, na Tijuca. Foi na comunidade que, em 1997, trocou tiros com bandidos por quatro horas até conseguir chegar à Laje da Kombi, onde hoje está hasteada a Bandeira do Brasil. À época, o policial era lotado no 6º BPM (Tijuca) e enfrentou uma resistência enorme para subir a primeira ladeira da favela até o ponto de ‘contenção’ do tráfico, a menos de 30 metros da Rua São Miguel.
Sargento Max destaca a amizade construída com todos os moradores das áreas pacificadas pelo Bope: chamado pelo nome | Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia
Max também sabia que os tijucanos e comerciantes do bairro acompanhavam a ocupação com a expectativa de que a paz no morro refl etisse no asfalto, com a redução da criminalidade. Até a manhã do dia 28 de abril, o sargento nunca tinha subido aquelas favelas sem efetuar nenhum disparo. Treinados para o duro combate e situações de extrema violência, os policiais do Bope agora estão mais descontraídos: receberam cartinhas de ‘boas vindas’ de alunos de escolas próximas, ajudaram na organização de eventos da comunidade, deram autógrafos a moradores e até puderam brincar com a criançada. E todas essas impressões foram registradas por Max em seu caderno, durante os dias de serviço.
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“Eu sempre penso em como a comunidade vai nos receber e tenho muito cuidado na forma de tratar os moradores porque eles agora olham para a gente com esperança. Estou na PM há 21 anos e nunca imaginei um dia andar com tranquilidade numa favela, ser chamado por um morador pelo meu nome. Estamos levando dignidade às comunidades e as crianças agora têm outro exemplo”, disse ele.
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Com dever cumprido, Max e seus companheiros do Bope deixam a Tijuca amanhã, depois de estreitar os laços entre a polícia e os moradores dessas sete comunidades. O campo já não está mais minado e a equipe da UPP, comandada pelo capitão Bruno Amaral — tijucano de nascimento — continuará a tocar a nova política de segurança.
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Em poucos dias, a Zona Norte festejará o retorno dos homens de preto para a pacificação de outra comunidade: o Morro do Andaraí. A ideia é evitar o ataque de bandidos e dar mais segurança à unidade que funcionará próximo ao campinho da Chácara do Céu.
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