domingo, 6 de junho de 2010
Vizinhança livre do medo
A varanda foi o ‘território’ retomado pela família da Tijuca. Antes da ocupação policial, local era área de risco
POR PAULA SARAPU
Rio - Os tiros no morro sempre ecoaram no asfalto, espalhando medo e degradação pela Tijuca. A violência fez a varanda de casa ser abandonada há tempos por Dona Irene Teotônio, 63 anos. Hoje, o espaço ganhou um ‘sino do vento’ em forma de borboleta. Símbolo de transformação e renascimento, o enfeite derruba a trincheira imaginária criada pela moradora de um condomínio de classe média na Rua São Miguel, desde que trocou a pacata Região Serrana pela Tijuca, na época em que os filhos vieram cursar a faculdade, há 13 anos.
Dona Irene enfeitou sua varanda com um sino de vento, símbolo da paz recente | Foto: Felipe O' Neill / Agência O Dia
Com medo das balas traçantes disparadas por traficantes da vizinha Casa Branca, Dona Irene se viu obrigada a abrir mão de sua pequena área de lazer. Da janela com grades, cansou de ver assaltos, bandidos circulando armados de moto e até desova de corpos, como num filme de terror. Ligava para a polícia, masa sensação era de que eles também tinham abandonado aquela rua.
>> LEIA MAIS: Diários da liberdade: Irene Teotônio, 63 anos, dona de casa, morada da Rua São Miguel
“Eu acordei muitas madrugadas ouvindo ‘sai, sai!’ e cheguei a perder as esperanças. Com a UPP, até um churrasco na varanda fizemos no Dia das Mães!”, comemorou ela, que teve um mês para registrar em seu caderno todas as mudanças que acompanhava pela janela de seu apartamento. Dona Irene ouviu comentários sobre a UPP no supermercado, no banco, em todo o bairro. Em seu condomínio, por exemplo, ela soube que existe até lista de espera para comprar apartamento. Segundo previsão do mercado imobiliário, estima-se valorização em até 40%. Vice-presidente da Associação Comercial da Tijuca, Jaime Miranda conta que o valor dos imóveis comerciais também já dobrou. “A Praça Saens Peña está saturada. O trecho de subida (da Conde de Bonfim, em direção ao Alto da Boa Vista) ainda está carente de serviços. O bairro está em ebulição e torcemos pela revitalização”, atesta.
>> FOTOGALERIA: Ocupação do Bope em favelas da Tijuca
A Inspetoria Regional de Licenciamento e Fiscalização da Tijuca registrou aumento nos pedidos de alvará. Não é possível afirmar se os dados já são refl exo da UPP. Mas uma situação, porém, é especial. Esta semana, morador do Morro do Cruz procurou a inspetoria para legalizar sua ofi cina mecânica: “Vim por causa da UPP”.
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